"Mussum, O Filmis": Uma Celebração Cheia de Coração e Energia

Protagonizada pelo talentoso Ailton Graça em um desempenho notável, a cinebiografia premiada em Gramado não é apenas convencional, mas também transborda de coração e energia. Além disso, conta com o belo trabalho de Cacau Protásio e Neuza Borges.

Quando o elenco estelar de "Mussum, o Filmis" subiu ao palco do 51º Festival de Gramado para a última exibição da mostra competitiva de longas, mais do que uma história estava sendo contada. Primeiramente, trata-se da história de um dos maiores humoristas do Brasil, o carioca Antônio Carlos Bernardes (conhecido como 'Mussum'), que antes de se tornar um ícone do humor, era um sambista dos Originais do Samba e faleceu aos 53 anos em 1994. Em segundo lugar, é uma história de representatividade negra que atravessa o tapete vermelho e concorre ao cobiçado Kikito, emocionando a todos que estavam presentes na sessão.

Com sua estreia comercial marcada para esta quinta-feira (2), o filme dirigido por Sílvio Guindane pode ter suas imperfeições e seguir um caminho convencional, mas o que realmente se destaca é a celebração do poder de entretenimento que Mussum possuía. O filme parte de relatos da família, cartas e fotografias e começou sob a direção de Roberto Santucci, que, ao perceber que não poderia assumir o posto de diretor devido à falta de vivência na história, optou por supervisionar o aspecto artístico. Guindane, também ator, assumiu a direção e transformou o filme em uma dramédia repleta de homenagens. O filme apresenta de forma dinâmica e musical a evolução de Mussum, com o jovem prodígio Tawan Lucas retratando a infância, o carismático Yuri Marçal atuando na juventude, e Ailton Graça, que se destaca ao interpretar a maturidade e a maior parte da vida do personagem. Cacau Protásio brilha ao encenar a primeira fase de Dona Malvina, mãe do protagonista, enquanto Neusa Borges entrega uma atuação emocionalmente intensa na segunda metade do filme.

O filme é enriquecido por aparições importantes de figuras lendárias como Cartola, Elza Soares, Alcione e Jorge Ben, que destacam momentos memoráveis de Mussum com o grupo Os Trapalhões e sua sólida amizade com Os Originais do Samba, bem como sua constante busca por conciliar múltiplos trabalhos. No entanto, o coração do filme reside na importância de Dona Malvina em sua vida, um tema tratado de forma autêntica por um elenco profundamente sintonizado. Os diálogos maternais recorrentes são tão comoventes que transcende qualquer didatismo.

Em uma entrevista com o Viver, Ailton Graça, que trabalha nessa interpretação há cerca de uma década, fala sobre sua ligação inicial com Mussum e a oportunidade de trazer o filme à vida.

"A primeira vez que me conectei com Mussum foi através dos Trapalhões, mas minha família tinha um enorme toca-discos e costumávamos ouvir muito samba nos fins de semana, então Os Originais do Samba faziam parte da minha vida. Eu acreditava no reinado mangueirense muito antes de escolher minha escola de samba, e tudo isso era graças a ele. Esta imersão em entender sua vida, através de livros, documentários e conversas com sua família e amigos de São Paulo que o conheceram, foi muito intensa e cheia de histórias. Estar no filme contracenando com Neusa Borges, que foi minha mãe na minha estreia na televisão em 'América', foi como fechar um ciclo incrível, pois não precisávamos inventar nada. Esse carinho já existia", disse o ator.

"Cacau Protásio também comentou sobre a experiência: "Permiti-me entrar em um registro diferente, e, apesar do nervosismo, me senti muito acolhida por todos na produção, especialmente por Silvinho, que me ajudou muito na pesquisa e no processo de filmagem. Não foi fácil, mas foi muito natural. Acredito que, após o lançamento nos cinemas e o público vivenciar o filme, as coisas vão se encaixar. Mussum representa uma história que pode se conectar com audiências de todas as classes sociais, porque ele falava para o mundo com sua alegria."